segunda-feira, 13 de junho de 2016

Tenho menos de 18 anos e quero me preparar! O que fazer?

E aí time, tudo tranquilo?
Há alguns dias fui surpreendido por uma pergunta de um seguidor, que por ser menor de idade, tem dificuldades de encontrar locais e oportunidades pra treinar técnicas de sobrevivência e ter contato com a natureza propriamente dita. Isso, de início me gerou uma certa dúvida em relação à resposta, e vou contar-lhes porque, levantando alguns aspectos sociais e familiares atuais.
Um dos primeiros pensamentos que tive foi sobre "como ele já quer treinar técnicas de sobrevivência?", pois é possível que ele nunca tenha tido um contato com a natureza pura, intocada... isso porque penso em como nós, multiplicadores do debate em sobrevivência, estamos resumindo o contado com a natureza ao embate com esta! Alguns de nós esquecem que atividades como acampamento (camping), trilhas (trekking), caminhadas (hiking) e escaladas (climbing), são bem anteriores e mais difundidas que a própria ideia de sobrevivencialismo, que consiste em todas as capacidades, técnicas e equipamentos voltados pra manutenção da vida em condições extremas.
Outra questão relativa a isto é que muitos dos contatos que nós tivemos com a natureza, quando mais jovens e bem menos experientes, foi algo impulsionado por características familiares (pais que acampavam, avós que moravam no interior, primos que curtiam explorar locais desconhecidos, etc).
Infelizmente, aqui no Brasil não possuímos (eu desconheço, admito) espaços voltados ao camping infantil ou juvenil, como é comum em países como Estados Unidos e Canadá. Tais locais são ótimas oportunidades para que as crianças e adolescentes, ao menos nas férias escolares, possam ter contato com a natureza e com atividades que normalmente elas não fariam em suas residências. Aqui é bem mais comum as colônias de férias, que colocam as crianças em atividades bem menos interessantes, como banhos de piscina ou pintura a guache... 
Hoje, parte destas relações familiares tem desaparecido, muitos avós não moram mais no interior, muitos pais e mães não acampam mais, muitos primos não têm a mesma curiosidade de 15 anos atrás pela natureza... isso acaba gerando uma série de dúvidas nesta galera que curtiu a ideia propagada por de programas de sobrevivência mas não sabe por onde começar.
Logo, me veio uma segunda dúvida: "como respondê-lo sem que ele perca o interesse na temática?". Pensei nisto pois há uma concepção difundida (pelos professores e instrutores de sobrevivência por aí e semelhantes) de que a sobrevivência é algo inerentemente feito na natureza, e talvez algumas informações faltem a uma série de garotos e garotas que querem ir preparados pra natureza, mas não sabem especificamente como, e acabam assistindo alguns embustes no YT, etc!
Como um interessado pela propagação do assunto, mas também responsável, joguei a seguinte real pra ele: "cara, eu não vou te aconselhar a fazer algo que irá colocar sua vida em risco, mas se eu puder lhe dar uma dica inicial sobre o assunto, eu digo, procure um grupo escoteiro".

E porque desta resposta? Simplesmente porque num ambiente como do escotista, ele poderá descobrir, junto a pessoas responsáveis e que possuem conhecimento na área, o contato com a natureza, no que ela pode ser útil, onde ela pode ser perigosa e, principalmente, quais as possibilidades que ela fornece aos interessados e interessadas em atividades ao ar livre!
Por exemplo: eu fui escoteiro durante 5 a 6 anos, e foi lá que eu descobri de fato que acampar não era minha praia! Tinham muitos que adoravam, mas eu sempre ficava puto depois de 2 dias com aqueles mosquitos miseráveis, areia no colchão, chulé na barraca, etc! Tbm foi durante o escotismo que eu comecei a gostar de acender fogueiras, assar alimentos na brasa e fazer comidas mateiras (ovo na laranja, batata no buraco, etc), ou mesmo a gostar de rapel!
A partir de uma dessas experiências controladas, um garoto ou uma garota podem se tornar um Ray Mears ou uma Juliane Koepcke (única sobrevivente da queda do 508 LANSA), assim como podem se transformar em amantes do rapel, de escaladas, de vôo livre, ou mesmo de explorações em grutas, etc.
Deixo o debate aberto para que os amig@s contribuam com suas experiências e opiniões!

Vamos pra natureza!

sábado, 4 de junho de 2016

Voltando... e porque estar preparado para um cenário que vc nunca irá enfrentar?

Bom galera, voltando com nosso Blog, após um mês movimentado pela finalização dos campos da dissertação...

A postagem de hoje vai como questionamento relacionado aos amigos que se preparam para cenários de crise onde, hipoteticamente, irão se encontrar em florestas...
Bom, recentemente aconteceu minha saída do GSE/CE, relacionada a diversas divergências de opiniões em relação ao processo de preparação difundido entre o citado grupo. Cabe lembrar que, aqueles que acompanham o nosso canal do YT e a página do FB devem ter visualizado arquivos de algumas das atividades do grupo, em sua esmagadora maioria ligada ao contexto mateiro, ao bushcraft.
Esse foi um dos principais questionamentos, quando ao perceber os rumos tomados pelo grupo, questionei se não seria interessante (e necessário) inserirmos novas variáveis no processo de treinamento e preparação, caso de técnicas de sobrevivência urbana (defesa de residência, perseguição e fuga, parkour, combate com facas, evitar assaltos, etc), sobrevivência no litoral (pesca, captura de moluscos, caça de crustáceos, formas de evitar insolação, etc) ou mesmo no sertão (espécies animais e vegetais comestíveis, locais onde há água, etc)...


Explicarei melhor meu pensamento: aqueles que se dizem sobrevivencialistas devem pensar que, no mundo atual, quase tudo que acontece ao seu redor traz possibilidades de causar-lhes problemas. Um pneu furado próximo a locais perigosos, um assalto num ônibus, uma saidinha bancária, um banho de mar, ou mesmo uma ida ao shopping...
A grande questão é que cerca de 80% dos cursos de sobrevivência que já vi espalhados por aí coloca um grupo de pessoas no meio da mata com recursos escassos, sendo que a probabilidade de que isto venha a acontecer na realidade é quase mínima!

- Ah, mas se meu avião cair na Amazônia?
Vc, com quase absoluta certeza, vai morrer!! A não ser que esteja jogando um Call of Duty, um Battlefield...
Alguns podem afirmar que "quem se prepara um ambiente extremo como a selva, se prepara pra qualquer ambiente natural"... será?
Quando citei o litoral já tinha gente dizendo que não aguentava andar na areia de praia, que era muito fácil de encontrar alimento, e mais uma série de afirmações para descreditar algo que ainda é desconhecido pela grande maioria...
Eu cito o seguinte: a selva é extrema pela quantidade de fauna e flora? O litoral te dá uma insolação em poucas horas! A selva te permite treinar técnicas de caça? O litoral te coloca a mercê de um outro ambiente, o aquático! A selva possui espécies venenosas que podem te matar com uma ferroada ou picada? Basta um gole de água salgada pra suas chances de vida caírem drasticamente...
Agora, porque insistir nesta diversificação em termos de preparação? Responderei com dados e algumas perguntas retóricas, ok?
Cerca de 70% do território cearense está localizado na depressão sertaneja, onde predomina a caatinga.
A zona costeira ocupa apenas cerca de 4% do território do Estado, mas a junção deste ambiente com as planícies fluviais, onde há presença de manguezais, apicum, planícies de inundação, etc, provocou a intensa urbanização nestas áreas.
Mais de 75% do território cearense está urbanizado, ainda que minimamente.
Pergunto a vc, leitor: onde vc passa a maior parte do seu tempo durante a semana, no mato ou na selva de pedra? Onde vc realiza boa parte de suas atividades cotidianas, na cidade ou em meio à Mata Atlântica?
Ok, mudemos o foco para os momentos de lazer. Quando vc sai a lazer com sua família, seja na praia, na serra ou num parque, vc se vê sujeito a quais problemas, assaltos ou ficar perdido no mato?? Batidas entre veículos ou ir parar num local onde vc terá que descer do carro e fazer fogo com o Bow Drill??
Acho que já sabemos a resposta.
Assim, não quero aqui tirar a importância das técnicas mateiras nas atividades outdoor, pois tais conhecimentos possibilitam que vc contorne a ausência de determinados materiais com elementos fornecidos pela natureza, o que pode salvar sua vida!
Mas não pense que o acúmulo de brevês e certificados de sobrevivência na selva te tornarão imune a qualquer problema que possa aparecer na cidade ou no litoral!
Bom, fica a dica, aprofundaremos mais em outros momentos, e vamos pra natureza!